terça-feira, 22 de setembro de 2009

Madeira, 24 de Abril de 1974

Acabei de assistir, hoje, dia 22 de Setembro de 2009, numa inauguração nos Canhas, a uma cena que nunca imaginei ser possível. Um cidadão (Manuel Relva), foi identificado a mando do AJJ por um tal de comissário Sousa. E foi identificado simplesmente porque não retirou as mãos dos bolsos para cumprimentar S. Excia. Este insistiu apertando-lhe o antebraço e o "criminoso", mantendo as mãos nos bolsos, respondeu-lhe que não o cumprimentava e que não era do partido dele. O AJJ virou-se para o tal Comissário e ordenou: "Identifiquem este sr.!" Se me tivessem contado teria dado um desconto pois suporia tratar-se de gabarolice de "prisioneiro político". Felizmente assisti a tudo. Porque conheço a pessoa em causa e porque estava a olhar para aquele ponto apercebi-me da situação e vi S. Excia a dar a ordem a um dos "seguranças" (comissário da polícia à civil, de fato azul escuro e gravata e auricular). Aproximei-me rapidamente, acompanhando a situação, enquanto o comissário levava discretamente o "criminoso". Dirigindo-me ao comissário disse-lhe coisas do género: "Felizmente estou aqui a assistir a isto para ter consciência da merda que isto é". "Pretendo acompanhar a chamada identificação deste sr." "Isto é assim?! Ainda bem que aconteceu pois acabei de perder qualquer ingenuidade política que ainda tivesse!" Já estaria-mos a 10 metros da orla da multidão. O sr. Comissário puxa do seu cartão plastificado e pergunta-me se sei quem ele é. Respondi-lhe, olhando-o bem nos olhos, que suponha que era uma autoridade qualquer mas que isso era-me indiferente. Respondeu-me ele que era o Comissário Sousa e ordenou-me que me afastasse. Respondi-lhe que não me afastava e perguntei-lhe quantos metros previa a lei que eu me afastasse! Chamou um agente da PSP e virando-me as costas entregou o "perigoso criminoso" ordenando que fosse identificado. O agente da PSP (Nunes), porque gostam de violar os direitos das pessoas de forma discreta, afastou-nos uns 70 metros da multidão que se mostrava indiferente como carneiros a caminho do matadouro e procedeu à identificação de forma envergonhada!
Voltei à "festa" esperançado que depois dos discursos S. Excia ainda distribui-se uns apertos de mão mas isso não aconteceu! Queria ver o que é que o Comissário Sousa (ele e mais dois rondavam o AJJ constantemente) ia fazer quando eu não cumprimentasse S. Excia e olhando-o nos olhos o desafiasse a mandar-me identificar.

Publico este meu testemunho, no meu próprio blog, para que eu não esqueça que estas coisas acontecem na Madeira, 35 anos depois do 25 de Abril!

E assino para que o Ministério da Administração Interna possa me processar por difamação!

António Manuel Spínola de Freitas

P.S.: Ainda foi preciso sossegar a família do "criminoso", explicar-lhes que ninguém pode ser obrigado a cumprimentar S. Excia e que quem procedeu mal foi este!
Desafio os membros da oposição, durante esta campanha, a recusar o cumprimento de S. Excia. Este desafio é lançado a todos, ao militante mais humilde bem como ao mais vaidoso líder partidário!