quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

A lei do ruído e a oposição

Parlamento original in DN (Madeira)
Data: 15-07-2007


Uma famosa região insular, muito conhecida pelas suas belezas naturais, pelo sol que brilha de mais e pelas suas águas quentinhas do mar, possui um Parlamento Regional, muito original, com uma característica própria, capaz de apresentar a coisa mais insólita de tal modo natural que, se o mundo conhecesse lhe daria certamente uma atenção especial. Parlamento esse dominado há dezenas de anos pela maioria dum partido que a ninguém dá ouvidos e a seu bel-prazer tudo tem decidido. Ainda assim, sente-se incomodada por uma ou outra palavra da frágil oposição que não tem poder para nada. E vai daí aproveita uma nova Legislatura para impor uma posição mais dura, reduzindo o tempo de intervenção dos deputados da oposição. Aqui vai a narração, extraída duma gravação, fiel como uma escritura, da primeira sessão da nova Legislatura. Sr. deputado, por gentileza - disse o Sr. presidente da mesa - tem a palavra, mas como sabe tem que ter ligeireza. O deputado da Nova Democracia, sorridente, cumprimentou o Sr. presidente e todos os presentes, mas, quando começou a falar, já o mandaram calar, alegando ter perdido imenso tempo a se levantar e alinhavar, e os minutos aí já estavam a contar. - Tem a palavra o Sr. deputado do Bloco de Esquerda - que, muito rapidamente, disse, dirigindo-se à mesa:- Esta nova imposição - peço desculpa - se for para continuar o melhor será levar o Parlamento para a Casa das Mudas. - Sr. deputado, o seu tempo está expirado, deixe o microfone, se quiser continuar a falar, faça-o pelo telefone! Seguia-se o Sr. deputado da CDU, mas por razões anormais - problemas nas cordas vocais - não lhe permitiam discursar. Na bancada da maioria, era visível a alegria. Deste "veneno" estamos descansados, disse alguém ao colega do lado. - Tem a palavra o Sr. deputado do Partido da Terra. Pouco falou, porque o seu tempo expirou. De extraordinário foi o facto de ser aplaudido pelo partido maioritário. - Sr. deputado do CDS, pode usar da palavra, por favor seja breve - Sim, Sr. presidente. E após cumprimentar os presentes, começou a discursar para pouco depois acabar.- Sr. deputado, o seu tempo está também terminado e queira-me desculpar mas não percebi nada do que esteve para aí a falar. - O Sr. presidente tem razão, mas foi uma minha opção, como tinha dois minutos, decidi só ler as últimas três linhas do meu manuscrito. Os socialistas seguiram-se na palavra, mas traziam a lição estudada. Elaboraram um único texto e cada deputado leu um trecho. Finalmente, o Sr. presidente dizia, olhando a bancada da maioria: - V. Exªs. para discursar têm o resto do dia. - Falem do presente e do futuro, mas não se esqueçam do passado e do mandato que ficou a meio, porque o panorama estava feio - gritou a oposição sem rodeios.

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