domingo, 28 de outubro de 2007

De rabo no ar à custa do subsídio !

Nuno Jesus in DN (Madeira)

Liberalização do transporte aéreo
Data: 28-06-2007

Como utilizador frequente dos serviços de transporte aéreo à partida da Madeira, tudo aquilo que tem sido dito sobre a liberalização do mesmo, concretamente nas linhas domésticas, entre Funchal, Lisboa e Porto, deixa-me seriamente preocupado. Supostamente, a alteração do esquema de exploração dessas linhas no que às tarifas diz respeito irá trazer benefícios a todos, mas talvez não seja bem assim… Irei apresentar uma análise às tarifas apresentadas pela TAP na linha entre Funchal e Lisboa, por ser a realidade que conheço, sendo a transportadora mais representativa na linha em termos de passageiros transportados. Existem, hoje em dia, na linha FNC-LIS-FNC os seguintes níveis tarifários, por ordem crescente de valor, para viagens de ida e volta: T: 101 EUR (para residentes); 150 EUR (para não residentes) (esta tarifa não tem mínimo nem máximo de estadia, tem disponibilidade limitada a certos voos e implica o pagamento duma penalização de 65 EUR por alterações após emissão do bilhete); E: 115 EUR (para residentes); 172 EUR (para não residentes) (aplicam-se as mesmas condições da tarifa anterior); M: 128 EUR (para residentes, época baixa); 191 EUR (para não residentes, época baixa) (máximo de estadia de 1 mês, obriga a passar a noite de sábado para domingo no destino, alterações após emissão implicam pagamento de 20% do valor da tarifa); M: 135 EUR (para residentes, época alta viagens iniciadas entre 1/7 e 30/9, entre 15/12 e 15/1 e na Páscoa); 201 EUR (para não residentes, época alta) (aplicam-se as mesmas condições da época baixa); B: 151 EUR (para residentes); 246 EUR (para não residentes) (máximo de estadia de 3 meses, obrigatório passar a noite de sábado para domingo no destino, alterações permitidas após a emissão sem penalização); Y: 151 EUR (para residentes); 330 EUR (para não residentes) (estadia máxima de 1 ano, alterações permitidas após emissão do bilhete sem penalização); C: 276 EUR (executiva para residentes); 412 EUR (executiva para não residentes) (estadia máxima de 1 ano, alterações permitidas após emissão do bilhete sem penalização). Todas estas tarifas, sujeitas à aplicação cumulativa das regras, são combináveis entre si (ida numa tarifa, regresso noutra ou vice-versa, sendo que neste caso se aplicam as fracções correspondentes a cada segmento). A comparação homogénea das bases tarifárias hoje em dia aplicáveis permite-nos obter o valor da diferença entre as tarifas de residente e de não residente: T (49 EUR); E (57 EUR); M (época baixa) (63 EUR); M (época alta) (67 EUR); B (95 EUR); Y (179 EUR); C (136 EUR). Ou seja, o valor que hoje em dia é suportado pelo Estado Português em indemnização compensatória à transportadora varia, de acordo com a base tarifária aplicável, entre os 49 e os 179 EUR. O que os nossos governos se propõem implementar é a aplicação dum valor fixo a ser pago ao passageiro elegível como residente, independentemente da base tarifária aplicável ao bilhete de ida e volta. Supostamente esse valor será de 60 EUR. Na hipótese de não haver alteração das bases tarifárias após implementação dessa nova medida, fácil é verificar que em muitos casos os passageiros residentes ficarão a perder, até porque, uma boa maioria utiliza a tarifa Y, sem restrições. Agrava este cenário, o facto desse valor apenas poder ser reclamado após conclusão da viagem, o que implica o pagamento adiantado do valor total da viagem sem aplicação do desconto de residente no acto da compra do bilhete, como acontece actualmente. Mais caricato será termos, por hipótese, novas transportadoras na linha a apresentarem tarifas mais baixas, por exemplo, ida e volta por 30 EUR, situação em que o residente, ao lhe ser pago uma indemnização de 60 EUR ficará com um saldo positivo de 30 EUR. Com a liberalização, poderão surgir tarifas mais baixas e mais altas, pelo que o residente que se habituou a pagar pouco por uma tarifa sem restrições sairá fortemente penalizado.

9 comentários:

amsf disse...

É caso para dizer que o correio de droga madeirense tem vantagens competitivas sobre o continental e tudo isto com o dinheiro dos nossos impostos!

amsf disse...

A minha opinião "reacionária" é que as viagens Continente/Madeira devem ser liberalizadas e que o Estado não tem nada que gastar o dinheiro dos nossos impostos a subsidiar os viajantes frequentes. Só existem duas situações em que o Estado deve intervir; viagens por razões de saúde e por motivos de estudo, neste caso "oferecendo" anualmente duas viagens de ida e volta ao estudante madeirense(ensino supeior)a estudar fora da Madeira.
Quem quiser ter moral para críticar os subsídios a certas élites tem que reconhecer que estas viagens subsídiadas (anualmente) não benefíciam mais do que 10% dos madeirenses.
Não tenho quaisquer números mas certamente que há menos de 10% dos madeirenses a usufruir de subsídios às viagens, de forma reiterada e várias vezes ao ano. Dir-me-ão alguns que viajar é importante para o crescimento intelectual de cada um, para abrir horizontes. Se esse argumento é verdadeiro que o governo subsídie integralmente uma viagem de ida e volta a cada madeirense anualmente e constatará que assim gastará menos do que gasta actualmente.

Anônimo disse...

O melhor mesmo será pedirmos ao AJJ e ao Ramos pra nos comprarem um jacto lol. Ou criarem uma companhia aérea. lol

MMV disse...

Acho que o Estado deve pagar os madeirenses, somos insulares! Por exemplo o IMOPPI não é saúde nem nada... E as pessoas precisam de deslocar lá...

E desde quando a concorrência é mau?! companhia aerea que está sempre em greve como a TAP, que atrasos é o normal existir... enfim a TAP que se transforme numa low cost como a Aerlingus... Quem é que quer aquelas refeições?

amsf disse...

Caro baby_boy!

Não é função do Estado subsidiar "turistas" e se o fosse da mesma forma que o madeirense pode ambicionar conhecer o Continente o mesmo pode acontecer com o continental em relação aos arquipélagos portugueses.
É preciso que se perceba que o Estado não "cria" dinheiro, o que ele faz é gerir os nossos impostos e pelo que vejo, mal...se queremos impostos mais baixas teremos que exigir que certos "serviços" não essenciais tenham que ser pagos pelo beneficiário e não por todos os contribuintes.

Já vi que deve ter uma empresa de construção civil para estar a mencionar sempre o IMMOPI como exemplo de um serviço que não temos cá. O IMMOPI é o organismo estatal em que as empresas de construção civil e imobiliários têm que estar registadas. Essa operação já é possível de fazer-se on-line.
O Estado como comunidade de todos os contribuintes não pode por um lado disponibilzar fundos para que a Madeira tenha uma réplica de todos os serviços que existem no continente e continuar a subsidiar viagens como se as mesmas fossem para fazer coisas essenciais que não podem ser feitas na Madeira. Se este país quizer erguer-se das cinzas terá que rever muita coisa que é dado por adquirido mas que racionalmente não fazem sentido!

Liberalização significa concorrência pelo que as Low Cost são bem vindas...são uma outra opcção de viajar...no entanto é bom que se saiba que o governo regional paga para que elas operem para a Madeira...não sei os montantes mas mais uma vez não é uma verdadeira liberalização.

É bom que se perceba que as Low Cost não são a solução para a maioria dos casos...têem viagens para lugares concretos, não permitem voos de ligação...as alterações acarretam penalizações proibitivas, etc. É mais uma opcção de viajar mas não é nenhum milagre como parecem nos fazer crer.

Anônimo disse...

A Madeira precisa é de um Jardim & Ramos Jet loool. Eles tem poder financeiro para isso, mas se calhar não podem trazer as massas para cá, porque dão muito nas vistas... lol.

Anônimo disse...

Bom dia pessoal! Hoje está "fino": lapas a 5 € e polvos a 8 €. mazzola@gmail.com

Rui Caetano disse...

Parece-me que, mais uma vez, estão a atirar areia para os nossos olhos. Será importante a liberalização se essa estratégia trouxer mais benefícios para todos nós, se for para piorar nem sei o que diga. Esperemos para ver. O Secretário de Estado do turismo que faça alguma coisa pelo povo madeirense que tem poucas possibilidades económicas para viajar.

Unknown disse...

Para mim caro AMSF, esta questão não é uma questão de hábito ou falta dele. Nem sequer é uma questão de "mercado", visto o mesmo não existir de forma concorrencial.

Como já disse no post do Dr. Rui Caetano, esta ligação Funchal / Lisboa, é extremamente rentável à TAP enquanto não houver outra solução. Mesmo com o apoio / subsídio estatal, as viagens atingem valores astronómicos para a natureza e dimensão do serviço que prestam.

Os valores das taxas aplicáveis - sendo a mais grave, a taxa aeroportuária do Aeroporto da Madeira - é brutal, e sem qualquer consideração para o mercado madeirense. Há um claro aproveitamento de um estado de necessidade dos ilhéus que não têm outro remédio senão pagar os preços reclamados.

E nem todas as viagens são "turísticas". No meu caso, tenho de fazer várias viagens por ano, por motivos profissionais e, a não ser que vá de barco, não tenho outro remédio - toca a pagar (200 ou mais euros - porque as tarifas mais baixas, ou não servem, ou não tem para os dias, ou estão cheias).

A solução passa pela inevitável abertura da linha a outras companhias aéreas. É um caso em que a concorrência será benéfica porque trará os preços praticados para o seu valor real.

Esta é a “verdade inconveniente” e a razão pela qual a TAP não quer largar mão da sua linha mais rentável.