terça-feira, 12 de junho de 2007

A Madeira no tempo da outra Senhora

Bruder Says: in http://www.uma.pt/blogs/box-m/
August 22nd, 2006 at 1:20 pm



(Aos editores do blogue ;que me perdoem o abuso da sucessivas publicações)



Olhem-lhe bem nos olhos, e digam lá se percebem algo
Durante muitos decénios o bailinho da Madeira foi folclore para entreter estrangeiro, e deliciar as Damas dos Governantes que vinham às orquídeas, e de passagem, apreciavam a paisagem. Era um País de danças, sendo que o vira, o fandango, e outras voltas mais, eram a especialidade lá para lados do ” contenentee”. Aqui, no Atlântico Oriental, quando vinha Ministro, enfeitava-se a calçada com as melhores flores em forma de arco triunfal, honra só dedicada aos santos venerados na Ilha, Bispo incluído, ao som da célebre música de ferrinhos. O Funchal, única cidade onde a luz nunca faltava, era animada no dia-a-dia pelos navios do Cabo, imensos, e sempre de passagem rápida, regurgitando uns seres esbranquiçados e sardentos, que distribuíam alguns tostões pelas calçadas em forma de diversão, perante o contentamento das crianças indígenas, sendo que as patacas ao cambio do dia, davam a ilusão de estremecimento pontuais aos senhores da terra, com sotaque britânico. Lá iam cobrindo a nudez de uma pobreza envergonhada. Nesses tempos de rigor e pança colada ao costado, quem tinha parentes na Venezuela e África do Sul, olhava mais para lá do horizonte do que para a Encumeada, sendo imprescindível cumprimentar humildemente na praça pública, os ” doutores” e afins, pois, tal como hoje, quem não tinha padrinho, não ia longe.
Aqui na terrinha, os que hoje se alvoraçam em ” libertadores”, comiam da mesma gamela dos exploradores do ” vilão, iam de banhos às praias porto-santenses, frequentando os mesmos clubes e piscinas, bares e afins, e já então, fumavam charutos de contrabando.
A pedofilia era coisa corrente, e a expressão ” ir aos camones” era todo um tratado de sobrevivência para a classe mais fragilizada, social e culturalmente. Tal e qual como hoje.
Se não falha a memória aos elderes da tribo familiar, houve no meio disto tudo, um arrebenta plebeu, um tal Amâncio, que desafiando Blandy, PIDE e o beato “Jornal da Mamadeira”, hoje porta-voz da Real e Santa Loja, mas então sob a anestesia dos incensos presbiterados, numa iniciativa quixotesca, mas audaz, instalou à sua conta e risco uma imprenta, mesmo diante do que é hoje a escola secundária ” Francisco Franco”. Aí, quase na clandestinidade tolerada, editou e publicou, um vespertino com duas folhas diárias que saíam do prelo quase sempre ao cair da noite, a que ele chamou ” Madeira Popular”. Era a voz da rebelião entrelinhas, sendo que na Rua da Carreira, central da PIDE cá no burgo, cada artigo, fosse sobre semilhas, ou falta de milho, acabava por norma no informe quinzenal para Lisboa. Para que a memória futura não nos atraiçoe, aponte-se que há trinta anos atrás, os filhos dos burgueses cá da Ilha, sempre rumavam para as faculdades de Portugal, e desconhecemos se algum rebento da oligarquia madeirense fora obrigado a exilar-se, ou mesmo emigrar, para sobreviver, ou estudar um curso superior. Desta plêiade de soberbos e mal-agradecidos, agora de nariz empinado, desconhecemos quaisquer antecedentes que lhes possam valer, e avalizar, qualquer manifestação, mais pequena que fora, que permita em consciência afirmar que tivessem manifestado, explícita ou tacitamente, o mínimo repúdio ao Regime que agora dizem execrar, mas do qual se banqueteavam.
Bastaria perguntar a essa camarilha, onde, com quem, e como estavam, quando em 74 os militares empurraram a marcelada para fora de Portugal. Nem mesmo, segundo testemunhas directas e bem vivas, quando o hoje Grão Mestre, furriel e suado, debitava o ” saber” da vadiagem coimbrã na chamada ” Escola Industrial”, nem aí, alguma vez demonstrou qualquer tique de inconformidade com o ” paraíso madeirense” onde ele, e os seus, estavam bem agasalhados. Ou pelo menos, em regime de mancebia.
Para que fique claro, e não venham cá com os equívocos do costume.
Creio não exagerar, diria que a maioria dos Madeirenses suportaram estoicamente esta situação durante estes últimos 30 anos, por uma razão simples; fomos todos e cada um, cúmplice da Mamadeira, onde jorraram milhões. Como é bem sabido, às vacas à que dar-lhes sossego para a leiteira encher. Em troca desse silêncio cúmplice, vamos mais rápido de uma ponta à outra da Ilha, olhamos as marinas, e estamos encravados de dívidas, até à terceira geração. Mais: toleramos que alguns enriquecessem do dia para o amanhã, e assobiamos para o lado, quando ” discursam” para o povinho ver e ouvir, mas ruborizamos, porque somos um Povo maioritariamente com vergonha. Mas que não se enganem a si mesmos: o que pretendem de verdade é continuar a esbanjar os dinheiros nossos e alheios, sejam eles daqui, de Portugal, ou da União Europeia. E na falta dos milhões, sim, que vão cobrar aos Madeirenses, se antes não os puserem portas adentro da Loja, com ou sem flama ardente. Se tal vier a acontecer, e as probabilidades são grandes, já não assobiaremos para o lado. Bailaremos, seja o bailinho, ou o vira, pouco nos dá. Assim, olhando-o nos olhos (que me perdoem os chimpanzés, animais inteligentes dentro da sua raça), digo-vos, como nas palavras da canção;” A mim não me enganas tu.”.

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